quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Zema age para barrar CPI de Brumadinho, dizem deputados

Três pedidos de investigação estão parados esperando a decisão do presidente Agostinho Patrus


Nos corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputados reclamam de uma interferência do governador Romeu Zema (Novo) para que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para tratar sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), não saia do papel. 

Parlamentares se queixam que o chefe do Executivo, que já tratou o tema publicamente como “incidente”, está pressionando o Legislativo por conta da sua proximidade com diretores de mineradoras.


No último dia 4, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PTB) protocolou um requerimento pedindo uma CPI para investigar a tragédia. O documento conta com assinatura de 74 dos 77 membros da Casa. Mas, desde então, o colegiado não foi criado. A incumbência de dar prosseguimento a essa abertura de comissão cabe ao presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), e não foi feito até o momento. Outros dois requerimentos para instauração de CPI para apurar o caso de Brumadinho foram protocolados por Beatriz Cerqueira (PT) e Doutor Wilson Batista (PSD) na mesma data. 

Durante reunião da Comissão de Administração Pública anteontem, Rodrigues declarou que obteve informações de que o governador não quer a abertura da CPI das barragens. Ele criticou a atitude de Zema. 
“As informações que estão chegando lá do Palácio (Tiradentes), e não são de quaisquer pessoas, é que o governador não quer a CPI. Mas é um governador que ganhou a eleição com o discurso de absoluta transparência e de defesa da sociedade. Defender a sociedade é defender a CPI da tragédia criminosa de Brumadinho. Ele está com medo de quê? Onde esta a transparência? Ou será que as poderosas mineradoras continuam cercando o Parlamento e o governo do Estado?”, disparou.

De acordo com um deputado governista, o que se tem visto é que há interferência direta do Executivo no Legislativo. “Ele tem feito pressão para que não se abra essa CPI, que tem um poder de investigação grande e que, justamente por ser independente, foge do poder de interferência do governo ou da própria Mesa da Assembleia”, criticou. 

Outro político ouvido afirma que o entendimento é que Zema procura não se indispor com essas empresas porque elas geram empregos no Estado. “Ele é empresário, conhece todos desse setor e sabe com quem não quer se indispor”, afirmou a fonte do bloco de governo.

Respostas

Questionado, o governo de Minas desmentiu com “veemência” que haja qualquer tipo pressão ao presidente da Assembleia e aos deputados, seja qual for o tema. Sobre o desastre da Vale, em Brumadinho, a assessoria informou que todas as ações do Estado são para que os responsáveis sejam devidamente punidos e que os esforços são para auxiliar toda e qualquer ação investigativa.

A nota lembra que, no dia seguinte à tragédia, a Advocacia Geral do Estado (AGE), seguindo a solicitação do governador, moveu ação e conseguiu o bloqueio preventivamente de R$ 1 bilhão das contas bancárias da empresa mineradora. Por fim, o governo se colocou à disposição pelos canais da Ouvidoria Geral do Estado (OGE) para receber manifestações quanto ao caso de Brumadinho.
Procurada, a Assembleia não quis se manifestar.


Reunião

Nesta quarta-feira, Romeu Zema vai se reunir em Brasília com o secretário de Mineração do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira. Contudo, o encontro não aparece na agenda oficial do governador de Minas, apenas na do secretário. Outro fato curioso é que, após a reunião com Zema, o responsável pela pasta terá encontro com os advogados da Vale que tratam da tragédia de Brumadinho. 

Na última segunda-feira, durante uma agenda com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Zema afirmou que iria se encontrar hoje com o ministro de Minas e Energia para discutir a tragédia de Brumadinho. 
Na ocasião, o governador afirmou que as empresas e o governo estão tendo dificuldades para encontrar profissionais para atuarem na fiscalização das barragens. “Depois dessa tragédia de Brumadinho, nenhum técnico e nenhuma auditoria verifica mais barragem alguma. Ninguém quer ficar com a batata quente na mão”, declarou Romeu Zema. 

O governador declarou que é preciso encontrar uma solução que “concilie segurança e a viabilização da atividade mineradora no Estado”. Segundo ele, caso a situação continue da forma que está, Minas terá uma desestruturação total no setor. “Não é fácil lidar com um problema desses porque não podemos expor ninguém a riscos, mas também não podemos parar uma atividade tão relevante para o Estado”, afirmou.

O Tempo

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