Três pedidos de investigação estão parados esperando a decisão do presidente Agostinho Patrus
Parlamentares se queixam que o chefe do Executivo, que já tratou o tema publicamente como “incidente”, está pressionando o Legislativo por conta da sua proximidade com diretores de mineradoras.
No último dia 4, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PTB) protocolou um requerimento pedindo uma CPI para investigar a tragédia. O documento conta com assinatura de 74 dos 77 membros da Casa. Mas, desde então, o colegiado não foi criado. A incumbência de dar prosseguimento a essa abertura de comissão cabe ao presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), e não foi feito até o momento. Outros dois requerimentos para instauração de CPI para apurar o caso de Brumadinho foram protocolados por Beatriz Cerqueira (PT) e Doutor Wilson Batista (PSD) na mesma data.
Durante reunião da Comissão de Administração Pública anteontem, Rodrigues declarou que obteve informações de que o governador não quer a abertura da CPI das barragens. Ele criticou a atitude de Zema.
“As informações que estão chegando lá do Palácio (Tiradentes), e não são de quaisquer pessoas, é que o governador não quer a CPI. Mas é um governador que ganhou a eleição com o discurso de absoluta transparência e de defesa da sociedade. Defender a sociedade é defender a CPI da tragédia criminosa de Brumadinho. Ele está com medo de quê? Onde esta a transparência? Ou será que as poderosas mineradoras continuam cercando o Parlamento e o governo do Estado?”, disparou.
De acordo com um deputado governista, o que se tem visto é que há interferência direta do Executivo no Legislativo. “Ele tem feito pressão para que não se abra essa CPI, que tem um poder de investigação grande e que, justamente por ser independente, foge do poder de interferência do governo ou da própria Mesa da Assembleia”, criticou.
Outro político ouvido afirma que o entendimento é que Zema procura não se indispor com essas empresas porque elas geram empregos no Estado. “Ele é empresário, conhece todos desse setor e sabe com quem não quer se indispor”, afirmou a fonte do bloco de governo.
Respostas
Questionado, o governo de Minas desmentiu com “veemência” que haja qualquer tipo pressão ao presidente da Assembleia e aos deputados, seja qual for o tema. Sobre o desastre da Vale, em Brumadinho, a assessoria informou que todas as ações do Estado são para que os responsáveis sejam devidamente punidos e que os esforços são para auxiliar toda e qualquer ação investigativa.
A nota lembra que, no dia seguinte à tragédia, a Advocacia Geral do Estado (AGE), seguindo a solicitação do governador, moveu ação e conseguiu o bloqueio preventivamente de R$ 1 bilhão das contas bancárias da empresa mineradora. Por fim, o governo se colocou à disposição pelos canais da Ouvidoria Geral do Estado (OGE) para receber manifestações quanto ao caso de Brumadinho.
Procurada, a Assembleia não quis se manifestar.
Reunião
Nesta quarta-feira, Romeu Zema vai se reunir em Brasília com o secretário de Mineração do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira. Contudo, o encontro não aparece na agenda oficial do governador de Minas, apenas na do secretário. Outro fato curioso é que, após a reunião com Zema, o responsável pela pasta terá encontro com os advogados da Vale que tratam da tragédia de Brumadinho.
Na última segunda-feira, durante uma agenda com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Zema afirmou que iria se encontrar hoje com o ministro de Minas e Energia para discutir a tragédia de Brumadinho.
Na ocasião, o governador afirmou que as empresas e o governo estão tendo dificuldades para encontrar profissionais para atuarem na fiscalização das barragens. “Depois dessa tragédia de Brumadinho, nenhum técnico e nenhuma auditoria verifica mais barragem alguma. Ninguém quer ficar com a batata quente na mão”, declarou Romeu Zema.
O governador declarou que é preciso encontrar uma solução que “concilie segurança e a viabilização da atividade mineradora no Estado”. Segundo ele, caso a situação continue da forma que está, Minas terá uma desestruturação total no setor. “Não é fácil lidar com um problema desses porque não podemos expor ninguém a riscos, mas também não podemos parar uma atividade tão relevante para o Estado”, afirmou.
O Tempo
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